Lindo poema de Eugénio de Andrade. Não conhecia... ouvi hoje, e fiquei simplesmente maravilhada... deixo aqui, para partilhar convosco... Ao "Deus Verde" ... porque, às vezes, os deuses existem;)
Trazia consigo a graça
das fontes quando anoitece.
Era o corpo como um rio
em sereno desafio
com as margens quando desce.
Andava como quem passa
sem ter tempo de parar.
Ervas nasciam dos passos,
cresciam troncos dos braços
quando os erguia no ar.
Sorria como quem dança.
E desfolhava ao dançar
o corpo, que lhe tremia
num ritmo que ele sabia
que os deuses devem usar.
E seguia o seu caminho,
porque era um deus que passava.
Alheio a tudo o que via,
enleado na melodia
duma flauta que tocava.
Eugénio de Andrade em «As Mãos e os Frutos», 1948
18 de junho de 2009
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